A mãe de um rapaz de 21 anos preso na última sexta-feira (10), em Curitiba, por ameaçar, coagir e divulgar fotos íntimas da ex-namorada de 15 anos na Internet, conversou com a RIC Record TV nesta terça-feira (14). Para ela, as atitudes do filho foram erradas, mas isso não o torna um criminoso.
“Ele sempre foi um filho muito bom. Ele estava focado na igreja. Eu sabia que ele era um menino que não tinha visão de malícia. Para mim era um ingênuo e ainda é. Poxa, ele não é um criminoso. Mas, tudo bem, ele cometeu um erro. Cometeu. Tem que pagar por esse erro? Tem que pagar, mas eu acredito que tudo isso que aconteceu tenha sido mesmo na emoção do calor. Não foi nada que ele fez para prejudicar alguém ou para fazer algo que pudesse afetar a família ou até mesmo a menina”, declarou a mãe.
A história dele com a garota começou quando ela tinha apenas 12 anos. Na época, os dois se conheceram na igreja e ele chegou a pedir permissão para iniciar um namoro, mas o pedido não foi aceito pela família dela e nem por sua própria mãe. Mesmo assim, os dois começaram o relacionamento, mas ela fez questão de ressaltar que nunca permitiu que os dois se encontrassem em sua casa. “Eu não aceitava esse namoro. Eles nunca namoraram realmente na minha casa. Ela estava ciente de tudo o que estava acontecendo, a mãe, o pai, toda a família deles, inclusive, a vó também”, disse.
Enquanto o namoro do homem com a menor de idade estava bem, não houve problemas. O pesadelo começou quando a adolescente decidiu terminar o relacionamento em 2020. Foi então que ele ameaçou divulgar as fotos da adolescente e, em janeiro deste ano, quando a vítima rompeu com o namorado, ele cumpriu a ameaça.
Segundo pai da garota, que não será identificado para preservar a identidade da adolescente, ele chegou a enviar uma fotografia na qual apareciam os seios da filha para sua esposa. Mas ainda assim, ele preferiu conversar à levar o caso para a polícia.
“A gente percebeu que ela estava meio quieta, fazia as coisas escondidas e nisso ela disse que ele falou que tinha fotos dela. Ele enviou uma foto dela, de seios, dizendo: ‘A sua filha não é o que aparenta ser’. Eu fiquei assustado, a minha esposa mostrou para mim e eu liguei para ele. Falei: ‘Cara, toma juízo. Você é um cara de maior, ela é de menor. Não queremos que você fique espalhando isso para ninguém”, lembrou o pai.
No entanto, o rapaz não parou e foi mais longe. Ele criou duas contas falsas nas redes sociais para expor a adolescente com as fotos, chegou a mandar as imagens para o grupo da igreja que ela participa e passou a entrar em contato com mulheres comprometidas, declarando que elas estavam sendo traídas pelos companheiros com a menor de idade.
“Ele criou um perfil se passando por ela. Dizendo que era e se relacionando, através do perfil falso, com homens. O pessoal mesmo viu que não era ela. Eles até acharam que era ele e ligaram para ele. Na outra situação, ele conseguiu o telefone de mulheres noivas, amiga da gente, entrou em contato dizendo que ela [ex-namorada] estava saindo com a pessoa, que o noivo estava traindo ela. Ele passou nosso endereço, isso que me preocupou, falou o nome dela, o número da casa. Eu fiquei com medo que alguém pudesse vir aqui e ela apanhar sem saber ou fazer alguma coisa pior com ela”, relatou o pai.
Foi então que os pais da menina viram que não havia outra saída e registraram um boletim de ocorrência contra o rapaz. Mas engana-se quem pensa que isso foi o suficiente para intimidá-lo, ele continuou perseguindo a adolescente e, por vários meses, costumava ir até a casa da família, tocar o interfone insistentemente e quando pai da jovem saia na rua, ele corria.
De acordo com o delegado José Barreto, do Núcleo de Combate aos Cibercrimes da Polícia Civil do Paraná (Nuciber), o rapaz pode ser acusado por vários crimes, entre eles, o de compartilhamento de material de pornografia infantojuvenil.
“O problema é que ele já está armazenando foto ou vídeo de uma adolescente em situação de nudez, então, já tem um crime. Ele passou ameaçar a menina, configura até o crime de constrangimento ilegal e pornografia de vingança, que é quando a pessoa tem um relacionamento, tem fotos íntimas e depois que termina divulga para terceiros essas fotos de nudez da vítima justamente para denegrir a imagem dela. Inclusive, por ela ser menor entra no crime de compartilhamento de material de pornografia infantojuvenil”, explicou o delegado.
É essa tipificação que os advogados de defesa do jovem querem evitar. Conforme Igor José Ogar, seu cliente não deve responder por crimes cibernéticos de pedofilia. “Entendemos que ele errou. Inclusive, ele admite o próprio erro e queremos que ele seja realmente processado e julgado por esse tipo penal, que seria em tese a difamação, a ameaça, mas não por crimes daquelas pessoas que pretendem satisfazer a lascívia própria ou a de outrem, que são esses crimes cibernéticos de pedofilia. Não entendemos que a qualificação está correta”.
Outro ponto que os defensores levantam é a necessidade de prisão do rapaz. O advogado Lucas Albino Baptista pontuou que todos esperam que ele responda em liberdade pelos crimes. “Não existe nos requisitos legais hoje nada que justifique o fato de ele estar preso já há quatro dias. A família não conseguiu ter contato com ele de forma alguma até o momento. Nós como procuradores conseguimos ter um contato breve com ele. Ele está muito confuso, receoso. Não sabe o que vai acontecer, foi algo que pegou ele realmente de surpresa”, completa Baptista.
Já a família da adolescente vê a prisão com alívio, para eles dessa forma o rapaz não irá mais perseguir e ameaçar a jovem. “Eu espero que toda pessoa que faz esse tipo de coisa com uma menor, sabendo que é errado, que é crime, tem que pagar. Ficamos com medo, né. A gente não deixa ela sair sozinha, tem que sempre estar junto, ir buscar e é assim a nossa vida”, finalizou o pai.
Na delegacia, quando foi interrogado, o rapaz preferiu manter silêncio.
Portal Guaíra com informações da Ric Mais