Guaíra – Município celebra 85 anos da devoção a Nossa Senhora de Caacupê e laços históricos com o Paraguai

O Município de Guaíra participou, na manhã de segunda-feira (08), de um dos mais tradicionais eventos de seu calendário cultural e religioso. Às 7h30, a comunidade se reuniu para a Missa em Ação de Graças dedicada a Nossa Senhora de Caacupê, padroeira do Paraguai e santa de forte devoção entre as famílias de origem paraguaia que ajudaram a moldar a identidade guairense. A celebração, que chegou aos 85 anos, segue marcando a história local e atravessando gerações.

Presidida pelo padre Jauri Strieder e realizada integralmente em espanhol, a missa emocionou o público. O canto litúrgico ficou a cargo da família Pedra, uma das principais guardiãs dessa tradição. A matriarca, Maria Luiza, conduziu voz e violão, acompanhada das duas filhas, do marido, do genro e da neta, que se apresentou com traje típico paraguaio — gesto que simbolizou a continuidade da devoção, agora alcançando a quarta geração.

Após a celebração, foi servido um café típico paraguaio com apoio da família de Rubens Arguello e de voluntários que, mesmo diante de um ano desafiador para a comunidade, mantiveram viva a tradição. A mesa trouxe sabores tradicionais como chipa, reviro, cozido, coquito, sopa paraguaia e outros pratos que representam a cultura de fronteira.

O dia 8 de dezembro carrega um significado especial para Guaíra. Mais do que um ato religioso, é o reconhecimento de uma herança histórica que acompanha o município desde antes da emancipação política. O território guairense já integrou o Paraguai em períodos passados, e essa ligação permanece evidente na geografia de fronteira, nos costumes preservados e na presença marcante de famílias descendentes de paraguaios que formaram a antiga Vila Velha, considerada a primeira vila local.

A origem da celebração remonta a 1940, quando Dona Quitéria Aguilera chegou à região trazendo uma pequena imagem de Nossa Senhora de Caacupê, encontrada durante a Guerra do Chaco (1932–1935). A escultura de madeira e prata havia sido recolhida no campo de batalha por um militar e entregue à família como recordação. Em Guaíra, Dona Quitéria transformou esse símbolo em gesto de solidariedade: organizou um almoço gratuito para crianças carentes no dia 8 de dezembro. A tradição acompanhou a família em sua passagem pelo Mato Grosso do Sul e se firmou definitivamente em solo guairense.

Após o falecimento de Quitéria, na década de 1970, Dona Lucila Suares Arguello assumiu a continuidade da tradição. Reconhecida pela habilidade culinária e pela dedicação à comunidade, ela ampliou a estrutura do evento e ajudou a transformar o encontro religioso em um marco cultural da fronteira. Trabalhou no primeiro hotel de Guaíra, produziu doces, manteve um ponto de venda de comidas típicas paraguaias em sua casa e deixou um legado marcado pela fé, pela partilha e pelo acolhimento.

Entre as histórias preservadas pela memória popular, destaca-se o episódio em que a pequena imagem permaneceu desaparecida por 12 anos e reapareceu justamente no dia 7 de dezembro, véspera da celebração — fato que muitos fiéis consideram milagroso.

Hoje, a tradição permanece sob os cuidados de Rubens Arguello, neto de Dona Quitéria, que reforça o propósito original do evento: a devoção sincera e o cuidado com os que mais precisam. A celebração anual tornou-se um patrimônio afetivo de Guaíra, símbolo da identidade binacional que caracteriza a região.

Com 85 anos de história, a homenagem a Nossa Senhora de Caacupê reafirma o vínculo histórico entre Guaíra e o Paraguai, unindo famílias, fortalecendo laços culturais e mantendo viva a memória da fronteira. A cada edição, a celebração confirma o papel fundamental da fé e da tradição na formação da comunidade guairense.

Portal Guaíra com Assessoria

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Guaíra – Município celebra 85 anos da devoção a Nossa Senhora de Caacupê e laços históricos com o Paraguai

Celebração em espanhol, café típico e presença de quatro gerações mantêm viva a tradição paraguaia na fronteira.