Operação policial prendeu quatro pessoas e levou outras oito à delegacia para prestar depoimento durante ação em acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na sexta-feira (20) em Guarapuava, na região central do Paraná.
A Polícia Militar disse que a ação buscou cumprir dois mandados de prisão e um de busca e apreensão expedidos pela Justiça após integrantes do MST descumprirem ordem judicial que proibia o bloqueio da PR-170, e, segundo a corporação, agredirem e ameaçarem três policiais que negociavam a desocupação.
A ação, que envolveu quase 100 agentes, foi na sexta-feira (20), um dia após integrantes do MST renderem dois policiais durante protesto na PR-170. Relembre abaixo.
O MST afirmou, em nota, que policiais cometeram abusos durante a abordagem desta sexta. O movimento denuncia, por exemplo, que os agentes furaram pneus de veículos dos assentados e impediram a comunicação e o deslocamento das pessoas alojadas no espaço.
“Todos os demais moradores da comunidade foram impedidos de entrar ou sair do local. Assentados que trabalham em empresas da região relatam que tiveram pneus de veículos furados e não puderam sair para o trabalho. […] Policiais Militares invadiram casas de famílias assentadas, sem apresentar mandado judicial. Há vários relatos de danos às casas, extravio de documentos e roupas, e apreensão de instrumentos de trabalho como enxadas, facões e foices”, diz nota do MST.
Na avaliação do movimento, a ação policial foi “desproporcional” e “desmedida”, visto que no dia anterior foi marcada reunião de negociação para esta sexta com a Ouvidoria Agrária Nacional, da Ouvidoria Agrária estadual e do Centro Judiciário de Soluções de Conflitos (Cejusc) do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).
O g1 procurou a PM sobre as denúncias feitas pelo MST, porém, a corporação disse que não vai se manifestar.
Ao todo, 98 agentes participam da ação, entre equipes da Polícia Militar (PM) e do Pelotão de Choque da PM, da Polícia Civil, Polícia Rodoviária, Polícia Ambiental e do Corpo de Bombeiros.
Quatro pessoas foram presas e outras oito serão indiciadas
De acordo com a Polícia Civil, todos os 350 integrantes do movimento que estavam no local foram abordados e identificados.
Foram apreendidas duas pistolas com munições, uma espingarda e munições.
Quatro homens foram presos por porte de arma e/ou porte de munição. Eles têm de 30 a 58 anos.
A Polícia Penal disse que a um dos presos foi concedido do direito de fiança – ele pagou o valor fixado e foi liberado, os outros três seguem detidos enquanto aguardam decisão da Justiça.
Outras oito pessoas foram levadas à delegacia de Polícia Civil para prestar depoimento e foram liberadas porque não houve flagrante. Elas serão indiciadas por resistência, desacato e lesão a policial militar. Segundo a polícia, todos negaram envolvimento nos crimes.
A advogada Vanesca Toledo Karspinski atua na defesa dos quatro presos e das oito pessoas levadas para prestar depoimento.
Em nota, ela disse ser prematura qualquer conclusão e que a ampla defesa será exercida ao longo do processo.
“Os investigados colaboraram prontamente com a justiça, respondendo todos os questionamentos que lhe foram formulados pela autoridade policial e estarão à disposição da justiça para todo e qualquer esclarecimento, de modo a contribuir com as investigações de forma a revelar a verdade sobre os fatos”, finaliza a nota.
Manifestação teve policiais rendidos pelo MST
Um dia antes da operação com quase cem agentes, na manhã desta quinta-feira (19), dois policiais foram rendidos por integrantes do MST na manifestação na PR-170.
No vídeo, os dois policiais aparecem sendo retirados do local, rendidos pelos braços, pelos manifestantes às margens da estrada. Veja no vídeo acima.
A Polícia Militar disse, em nota, que uma equipe foi ao local diante da interdição da rodovia e pediu “de maneira pacífica” para os manifestantes liberarem a estrada.
A corporação disse ter avisado ao movimento que há, inclusive, decisão judicial proibindo o bloqueio da via.
“Em momento posterior, conforme pode ser visto em vídeos que circulam pelas redes sociais, utilizando de força e agressão, os manifestantes retiraram a equipe policial do local”, disse a PM.
De acordo com a polícia, os agentes envolvidos passam bem e nenhum deles foi feito refém.
O g1 questionou o MST sobre a manifestação e especificamente sobre a afirmação da PM de que houve uso de força e agressão contra os agentes.
O MST afirmou, em nota, ser falsa a informação que circula em redes sociais de que o grupo teria feito os policiais reféns.
O movimento afirma que cerca de 300 camponeses e camponesas bloqueavam parcialmente a PR-170 para cobrar uma resposta do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no Paraná (Incra-PR) sobre a regularização fundiária de 14 comunidades da região.
A manifestação começou ainda na tarde de quarta-feira (18), foi paralisada, e retomada na manhã de quinta, na altura do km 390. Nesse período, foi permitido apenas o tráfego de veículos de saúde.
Manifestação por reforma agrária
Em nota, o MST também disse que o movimento busca a regularização fundiária de 14 comunidades camponesas Sem Terra e de Posseiros, localizadas nos municípios de Inácio Martins, Pinhão e Guarapuava , na região central do estado, e Reserva do Iguaçu, no sudoeste .
Juntas, as comunidades formam a chamada “Brigada Cacique Guairacá” do MST no Paraná. Segundo o movimento, são cerca de duas mil famílias – algumas há mais de 30 anos à espera da formalização dos assentamentos.
“As pautas foram apresentadas em uma assembleia com o INCRA, realizada na região há 90 dias. Sem resposta do órgão na data prometida, as famílias ocuparam a estrada sem prazo para sair, até que sejam ouvidas”, destaca o MST.
Na quinta-feira, o INCRA disse que “desde o início do ano mantém intenso diálogo com os movimentos sociais” e que na sexta-feira (20) um representante da direção do órgão, de Brasília (DF), iria a Guarapuava para se reunir com a Câmara de Conciliação Agrária e servidores da autarquia no estado para “firmar entendimento e esclarecimentos sobre as pautas com os trabalhadores rurais sem terra”.
Portal Guaíra com informações do G1