Segurança é um tema sensível quando falamos de fronteira. Guaíra, nos últimos anos, finalmente tem conquistado o reconhecimento que merece, pelo menos em se tratando de atenção por parte do poder público.
E quais são estes critérios? Os critérios passam por mais policiamento, claro, no entanto a repressão pura e simplesmente nunca foi um quesito absoluto, como ensina a história. Afinal, segurança passa, ao contrário dos que alguns pensam, por questões como cidadania, cultura, contexto sociológico. E cidadania–, esse quase clichê –,abarca educação, respeito, historicidade. E, em último caso, punição.
Guaíra, uma cidade de fronteira, lembremos, sempre apresentou altos índices de criminalidade, é verdade. E ela não é exceção. Municípios fronteiriços sempre apresentaram percentuais astronômicos.
Sintomático: A antiga Delegacia de Polícia Civil conviveu por anos (décadas) com um número de presos muito maior do que sua capacidade de absorção. Pelo modelo antigo, esta Delegacia, de uma pequena cidade do interior, contava com capacidade para 60 pessoas e um contingente de quase 200 detidos.
Essa realidade, que obviamente precisa contar com uma contextualização, sempre, finalmente mudou.
Hoje, a Delegacia de Policia Civil não precisa mais abrigar criminosos, pois Guaíra sedia hoje um Centro de Detenção Provisório (popular presídio, com capacidade para mais de 700 detentos).
E, finalmente, também contará com uma Delegacia Cidadã, o que evitará o pagamento de aluguel por parte do poder público, além de reservar atendimento especializado, adequado.
Ou seja, além do erroneamente chamado presídio, Guaíra terá uma delegacia de Polícia Civil, projeto idealizado pelo governo do estado e que está em andamento.
Para o atual delegado Magno Miranda, a nova unidade oferecerá, sobretudo, acolhimento para a população guairense. “Temos muitos atendimentos, alguns muito sensíveis, e essa delegacia oferecerá privacidade e proteção. Hoje, temos uma estrutura improvisada, e esperamos que possamos em breve oferecer o formato necessário, apropriado”, explica.
O jovem delegado também explica que o contingente de policiais poderá ser expandido. “Hoje temos de 15 a 20 servidores. Com a inauguração da nova estrutura, a expectativa é que consigamos ampliar esse quadro”, conta.
Apesar das dificuldades, Magno aponta avanços palpáveis. Uma das novidades é que a Delegacia de Guaíra conta hoje com duas lideranças. Além dele, Magno, o município também se vale do delegado Alessandro Velasco. “Guaíra é uma cidade complexa e fui designado a atuar aqui para ampliar a qualidade do nosso atendimento”, conta Alessandro.
Em que pese os índices terem diminuído (Guaíra teve 8 homicídios em 2022 – a título de comparação, em 2008 houve uma chacina que somente naquele ano vitimou 15 pessoas de uma só vez), o futuro trabalho com mais servidores, vai garantir, de acordo com os delegados Magno e Alessandro, um adicional de excelência nas investigações. “Hoje, ‘perdemos’ servidores para o atendimento de flagrantes, questões burocráticas e encaminhamentos rotineiros, entre outros afazeres. Com as readequações que envolvem a nova delegacia, poderemos nos concentrar nas elucidações rápidas de crimes sérios que envolvem roubo, homicídio, latrocínio e estupros, por exemplo. Vamos poder nos concentrar nas questões-fim, no trabalho voltado exclusivamente para a investigação”, conclui.
Delegacia
A Delegacia em construção tem valor estimado em R$ 6,3 milhões e a previsão é que a obra seja entregue até o final deste ano de 2023. O modelo é do tipo padrão II.
Essas unidades possuem infraestrutura de atendimento com espaços mais humanizados para o público em geral e para as vítimas de crimes. Entre as diferenças para as estruturas comuns estão acessibilidade para pessoas com dificuldades motoras e banheiros adaptados, salas para atendimentos seletivos, com espaços separados para o recebimento de vítimas e de agressores ou suspeitos, e ambientes isolados para crianças, adolescentes, mulheres e idosos.
A Delegacia Cidadã reúne diversas especialidades em um único local, com serviços centralizados para a população, o que diminui custos diários da Polícia Civil. O projeto foi pensado para um novo fluxo de parlatórios (momento em que a vítima identifica o agressor) e tem salas para advogados e para a Polícia Militar. Outro espaço exclusivo é do Instituto de Identificação, responsável pela emissão do RG, o que vai agilizar ainda mais a emissão de documentos dos moradores).
A nova delegacia está sendo construída no terreno já disponibilizado pelo município, na rua Ministro Gabriel Passos, em frente à antiga Pilão Amidos e/ou ao lado do Kartódromo Municipal.
A delegacia cidadã não será um presídio com carceragem, terá celas apenas para permanência temporária de presos. Com ambientes diferenciados para o primeiro atendimento ao cidadão e áreas específicas para confecção dos boletins de ocorrência. Esse formato permite preservar a identidade das pessoas que precisem recorrer ao local.
Cristian Aguazo especial para o Portal Guaíra
