Representantes do Coletivo Juntas acolheram e estão acompanhando o caso da vítima de tortura que fugiu do cárcere privado, em Toledo, no oeste do Paraná. As integrantes relataram algumas das agressões que a mulher sofreu por mais de um ano.
De acordo com a representante do coletivo, Cláudia Malmann, as agressões contra a vítima, de 38 anos, começaram com o uso de agulhas.
“Ela tinha que colocar a agulha na língua e costurar a boca com linha de costura. Depois da linha de costura passou para a linha de pesca, fio de nylon. Às vezes, com as agulhas dentro da boca, costurar a boca, costurar a pálpebra do olho. Com o tempo, isso foi ficando cada vez mais cruel. Quando a gente imagina que não dá, a história começa a ficar ainda mais cruel.”
Segundo a Policia Civil, o marido da vítima foi preso, na quinta-feira (24), suspeito de tortura, cárcere privado, lesão corporal e ameaça.
“Nas últimas semanas ela chegou a ter que colocar e atravessar cinco pregos na língua. Ela chegou a queimar o olho com chave de fenda. Teve que colocar veneno de carrapato no olho e falou que ficou semanas com o olho inchado. Ela tinha que aguentar isso quieta, pois não podia fazer barulho, não podia chamar os vizinhos”, disse Cláudia.
O caso corre em segredo de Justiça, e a mulher está abrigada em lugar sigiloso com o filho de 12 anos.
Conforme a delegada do caso, Fernanda Lima, a mulher conseguiu fugir da casa depois de uma da sessão de tortura. Com o cabelo raspado e o corpo cheio de hematomas, ela pediu ajuda e foi levada para a Delegacia da Mulher.
“A partir de agora é buscar recolocar essa mulher no mercado de trabalho e oferecer uma assistência psicológica. O relato é bastante chocante. Até quem já está acostumado a lidar com isso fica bastante consternado, porque é uma situação bastante violenta”, disse a delegada.
A vítima é casada há 13 anos com o agressor e contou que sempre viveu um relacionamento abusivo, mas que as agressões ficaram mais graves quando a pandemia começou, pois ela foi proibida de sair de casa.
De acordo com Cláudia, a vítima não podia sair nem para tirar o lixo, pois era monitorada por câmeras.
“Tinha uma câmera na sala e outra no quarto do casal, onde ela tinha que ficar o tempo todo na frente da câmera, o máximo possível. Se ela precisasse sair, ela tinha que voltar e ‘bater o ponto’, como ele chamava, que era dar um “joinha” na frente da câmera. Ele também fazia o filho monitorar”, contou.
O caso
De acordo com a Polícia Civil, o marido suspeito tinha um caderno com regras que a mulher deveria obedecer, caso contrário, ele a castigava.
As agressões físicas e psicológicas eram feitas na frente do filho do casal, de 12 anos, conforme a investigação.
A Polícia Civil informou que o suspeito, de 41 anos, foi preso em flagrante. Em seguida, a prisão foi convertida em preventiva.
O suspeito foi encaminhado à carceragem da Cadeia Pública de Toledo.
Segundo a delegada, o inquérito policial foi relatado ao Ministério Público do Paraná (MP-PR). Um mandado de busca e apreensão foi cumprido na residência do casal, e o material apreendido será analisado e passará por perícia.
Violência doméstica
Conforme Giana de Carmo, que também é integrante do coletivo feminista, os agressores têm aproveitado o momento de pandemia, pois muitas mulheres terão mais dificuldade para buscar ajuda.
Por isso, a instituição orienta para que as pessoas mantenham o olhar atento sobre possíveis casos de violência contra a mulher.
“Às vezes é um pouco complicado, mas se você mora em um prédio e parou de ver aquela pessoa, dá uma ligada. Se você começou a ouvir uma briga no fundo, em vez de colocar um fone de ouvido para não ouvir, tenta dar uma atenção para ver se não é alguém precisando de ajuda.”
Denúncias sobre violência contra a mulher podem ser feitas pelos telefones 100, 180, 153 ou 190.
Portal Guaíra com informações do G1