Novo ciclone extratropical impactará o tempo no Rio Grande do Sul na metade desta semana e será responsável por trazer chuva, vento e queda de temperatura, mas a MetSul Meteorologia antecipa que as expectativas em torno de impactos deste sistema não devem ser maiores, uma vez que os seus efeitos tendem a ser muito menores que em sistemas anteriores nos últimos dois meses.
O que vai acontecer? Uma frente semi-estacionária traz chuva desde este começo de semana para cidades principalmente do Oeste e do Sul do Rio Grande do Sul com ar frio no Sul gaúcho e ar mais quente atuando no Norte do estado. Os volumes de chuva entre segunda-feira e quarta-feira vão passar de 50 mm em muitas cidades entre a Campanha e o Sul gaúcho com marcas isoladas de 75 mm a 100 mm, e até isoladamente superiores.
Na quarta-feira, uma área de baixa pressão vai começar a se aprofundar junto a este sistema frontal. Na manhã da quarta, a baixa pressão vai estar com 1.010 hPa cerca de 200 quilômetros a Leste do Chuí sobre o Oceano Atlântico. Será o começo do processo de ciclogênese, ou seja, de formação de um ciclone.
Na tarde da quarta-feira, a baixa pressão estará na foz do Rio da Prata, cerca de 300 quilômetros a Sudeste de Montevidéu, com pressão mínima central estimada ao redor de 1.000 hPa, já como um ciclone configurado e em intensificação.
No final da quarta-feira, o centro do ciclone estará mais intenso, com pressão ao redor de 995 hPa, sobre o Oceano Atlântico Sul, mas já se distanciando do continente e a cerca de 500 quilômetros a Sudeste de Montevidéu.
No começo da quinta, por sua vez, a tempestade no mar já estará a quase mil quilômetros a Sudeste de Montevidéu e do Chuí. No final da quinta-feira, o ciclone já vai estar muito distante do continente, em longitude aproximada de 35ºW, ou seja, cerca de 1.500 quilômetros longe do continente.
CENÁRIO MUITÍSSIMO DIFERENTE DOS ÚLTIMOS CICLONES
Ciclones extratropicais são absolutamente comuns e recorrentes em nosso clima. Ocorrem no Atlântico Sul semanalmente. Não raro há dois ou três ciclones no Sul do Atlântico perto da Argentina e da Antártida. Em regra, estes sistemas se formam na foz do Rio da Prata ou junto ao Leste da Argentina.
Já ciclones na costa do Sul do Brasil são menos frequentes, embora não raros. Quando há uma ciclogênese na costa do Sul do país, perto do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, os efeitos tendem a ser mais graves em termos de chuva e vento pela maior proximidade do centro de baixa pressão profundo.
O ciclone desta semana vai se dar na área em que comumente se formam os ciclones, a Sudeste do Chuí e na foz do Rio da Prata, mais ao Sul. Muito diferente dos últimos três ciclones que impactaram o Rio Grande do Sul e tiveram a sua formação mais ao Norte.
O ciclone de 15 e 16 de junho, que deixou 16 mortos, se originou de uma baixa que se formou na costa do Sudeste do Brasil e migrou de forma anômala do mar em direção ao continente até o ciclone ganhar força sobre o mar junto ao Litoral Norte gaúcho, onde permaneceu por horas antes de se afastar.
Já o ciclone entre os dias 7 e 8 de julho se formou longe da costa, mas a baixa pressão que lhe deu origem passou e se aprofundou sobre a Metade Norte do Rio Grande do Sul, trazendo chuva que somou até 130 mm em algumas cidades com estragos.
Por sua vez, o ciclone dos dias 12 e 13 de julho, de forma pouco comum, se formou sobre o Rio Grande do Sul, em terra, numa ciclogênese continental e não marítima. Ao chegar na costa, se aprofundou muito sobre o mar bastante perto do litoral. Por isso, a chuva foi volumosa e os ventos ainda mais intensos que no sistema de junho com oito mortes e rajadas de até 150 km/h no Rio Grande do Sul e perto de 160 km/h em Santa Catarina.
Veja a enorme diferença do ciclone do dia 12 e 13 de julho para este previsto para o Leste do Rio da Prata nesta semana. O de duas semanas atrás se formou sobre o território gaúcho e se intensificou muito sobre a costa gaúcha.
Por sua vez, o ciclone desta semana vai se formar muito mais ao Sul, na costa do Uruguai, e o seu campo de vento será muito menos intenso, menor em dimensão, e mais concentrado sobre o Oceano Atlântico. O Rio Grande do Sul vai estar na periferia do campo de vento mais forte.
Os dois ciclones que causaram muitos estragos e vítimas, em junho e agora em julho, portanto tiveram características anômalas (migração do mar em direção ao continente e formação sobre o continente) que não estarão presentes neste sistema que se formará na região ciclogenética (de origem dos ciclones) tradicional.
Assim, ao contrário do que você ouvirá provavelmente em informes na mídia, novo ciclone não vai passar pelo Rio Grande do Sul. Vai se formar sobre o mar e permanecer sobre o mar, mais ao Sul, na costa uruguaia, e apenas a chuva e o vento decorrentes do sistema vão alcançar o estado gaúcho.
QUAIS OS IMPACTOS PREVISTOS PARA ESTE CICLONE
Ciclone que se formam na área do Rio da Prata são capazes de gerar vento muito intenso, com rajadas acima de 100 km/h, e transtornos no Rio Grande do Sul. Não será, entretanto, o caso deste ciclone porque a massa de ar frio (e a alta pressão continental) não é intensa. Os seus impactos em chuva e vento no estado gaúcho serão menores e não se trata de um cenário de elevado perigo meteorológico.
A região mais afetada pelo ciclone será o Sul e parte do Leste do Uruguai, nos departamentos de Montevidéu, San José, Canelones, Maldonado e o Sul de Rocha. Em Montevidéu, as rajadas na segunda metade da quarta e no começo da quinta devem atingir até 60 km/ou 70 km/h. Na costa de Maldonado, em Punta del Este, entre 70 km/h e 90 km/h, isoladamente superiores.
No Rio Grande do Sul, grande parte da chuva desta semana ocorrerá no Sul gaúcho entre hoje e quarta por um sistema semi-estacionário bloqueado pela massa de ar seco e quente sobre o Brasil. Quando a frente avançar como fria, associada ao ciclone, o sistema frontal será fraco e não trará chuva volumosa para a maioria das áreas do Centro e o Norte gaúcho assim como em Santa Catarina. No Paraná, muitas cidades sequer terão chuva.
Por sua vez, o vento também não se desenha como de alto risco. Onde mais deve ventar deve ser no Litoral Sul com rajadas mais fortes, em média, de 50 km/h a 70 km/h. Embora o tempo fique mais ventoso no final da quarta e na primeira metade da quinta em Porto Alegre e no Litoral Norte, as rajadas não devem ser intensas e o vento ficará em média entre 40 km/h e 60 km/h na maioria dos locais com rajadas pouco superiores na Lagoa dos Patos e na beira da praia.
Mesmo sem previsão de vento muito intenso, há alguma preocupação com o Sul gaúcho. Por conta da rede elétrica que foi muito danificada e fragilizada pelo ciclone com vento de até 150 km/h de duas semanas atrás. Quase duas semana depois, algumas comunidades e clientes no Sul gaúcho ainda estão sem energia elétrica pela CEEE Equatorial. Logo, mesmo vento moderado com rajadas fortes esporádicas pode causar algum impacto na região, embora não relevante em número de clientes afetados.
Portal Guaíra com informações da MetSul